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Bruno Carvalho

Nasce uma estrela

A jovem atriz Ana Murari é um dos destaques do longa BIA 2.0, de Cristiano Calegari

(Foto: Bruno Carvalho)


A atriz Ana Murari conta sobre sua jovem carreira, seu canal no YouTube e como foi a produção do filme BIA 2.0, que marca sua estreia no cinema

Ana Murari, 23, é atriz desde a época da escola. Com o apoio dos pais, fez alguns cursos de teatro e de musical até que, em 2017, participou do curta-metragem PLANO SEQUÊNCIA, gravado em sua própria casa e dirigido por Cristiano Calegari, onde viveu a protagonista Bia. Agora, o curta deu origem ao longa BIA 2.0, do mesmo diretor com Lucas Zampieri, onde Ana vive a “gótica-suave” Naty. O filme chegará aos cinemas no próximo dia 05 de dezembro, depois de ter feito parte da programação da Mostra Internacional de Cinema. Ana, que também tem canal no YouTube, o Somos Visíveis e Infinitos, onde fala principalmente sobre filmes e séries, diz que atuar num filme a fez se “sentir muito bem e realizada, como nunca tinha se sentido antes”. Nosso encontro se deu no primeiro andar do Sesc Avenida Paulista. Enquanto a fila do lado de fora do prédio não parava de crescer, Ana contou detalhes da produção do filme e de sua carreira com entusiasmo e muita simpatia.


Bruno Carvalho – Quando e por que você decidiu se tornar atriz?

Ana Murari – Eu comecei a fazer teatro com 14 anos, na escola onde eu estudava. Foi bem aquele lance para perder a timidez. Desde então, eu me apaixonei. Depois decidi fazer um curso profissionalizante, me formei e continuei estudando. É isso que eu gosto de fazer.

BC – Eu sei que você e sua mãe mantêm uma relação muito próxima. Ela te apoiou quando decidiu ser atriz?

AM – Sim, ela e meu pai me apoiaram demais. Quando eu terminei o ensino médio, não sabia muito bem o que fazer, então eles sentaram comigo e perguntaram o que eu queria. Foi quando eu disse que queria fazer um curso de teatro. Nós pesquisamos e eles me incentivaram muito.


“Na escola, tinha uns amigos que diziam: ‘Você não vai fazer faculdade?’”

BC – Alguém foi contra?

AM – Na escola, tinha uns amigos que diziam: “Você não vai fazer faculdade?”, mas foi só isso. De resto, a maioria sempre me apoiou. Tem muito preconceito na área.

BC – Quais as suas maiores inspirações?

AM – É uma pergunta muito difícil, porque eu acho que uma inspiração pode ser uma pessoa que faça o bem para o mundo e tenha perspectivas diferentes, que façam você refletir. Eu tenho várias inspirações: meus pais, atrizes, atores, cantores... Eu acho que um cara muito legal e que é uma inspiração para mim é o Dan Reynolds, vocalista do Imagine Dragons, porque, às vezes, eu acho que ele nem é desse planeta. Ele tem uma mente muito aberta, luta por várias causas e vai atrás do que acredita. As letras das músicas são muito pessoais e, por isso, ele é uma inspiração para mim, dentre muitas outras.

BC – A carreira de atriz abriu outras portas para você?

AM – Abriu muitas e me tornou uma pessoa muito melhor. Eu acho que todo mundo deveria fazer teatro na vida. Ajuda a ter a mente mais aberta e se tornar mais sensível ao mundo.

BC – O que você mais tem vontade de fazer nessa carreira?

AM – Atuar no cinema, pois foi onde eu me encontrei, onde eu achei que estava fazendo a coisa certa no lugar certo. Me senti muito bem e realizada, como nunca tinha me sentido antes. Foi muito inédito.

“Tem muita gente talentosa que está escondida por aí e que não tem oportunidade”

BC – Televisão, outros meios...

AM – Até teria vontade, mas o cinema é o que eu amei fazer. É que eu ainda não tive oportunidade de fazer televisão [risos].

BC – Quais as maiores dificuldades que você enfrenta?

AM – É uma área que tem muito preconceito e muita desvalorização de trabalho. Eu acho que falta muita oportunidade para as pessoas. Tem muita gente talentosa que está escondida por aí e que não tem oportunidade. Conseguir uma porta de entrada é uma das maiores dificuldades da profissão.

BC – Além da carreira de atriz, você tem um canal no YouTube onde já falou sobre maquiagem, séries, filmes, etc. Qual assunto você mais gosta de tratar?

AM – Séries, porque eu sou muito viciada. Eu gosto tanto de filmes, quanto de seriados, mas eu acho que nos filmes tudo passa muito rápido e na série você tem mais tempo, cria empatia pelos personagens, consegue se identificar, o roteiro pode ser melhor trabalhado e o arco dramático também. E o filme tem uma hora e meia, duas horas, a série não, tem “n” episódios, então isso pode ser mais bem desenvolvido. Fora que cria um vício e a curiosidade para saber o que vai acontecer no próximo episódio ou temporada.

BC – Me fale um pouco sobre a Naty [personagem de Ana no filme BIA 2.0].

AM – A Naty é uma gótica cheia de gírias com um jeitão todo diferente, mas ela é muito mais do que aparenta. Ela tem uma armadura, mas é muito sentimental. Ela trabalha numa floricultura com o Fabiba [Leonardo Silva], que foi recentemente demitido, e a Bia, de quem é melhor amiga. A Bia sofre uma desilusão amorosa e a Naty decide levá-la até uma trupe de palhaços amadores onde é voluntária e é onde a Bia conhece o Dan, interpretado pelo Ghi Lobo.


BC – E os bastidores do filme?

AM – Foi muito legal, muito diferente. Gravar foi incrível, apesar de ser cansativo. Tinha dia que, às vezes, a gente chegava a gravar 12 horas, então foi meio complicado. Mas eu gostei muito de conhecer pessoas extremamente bacanas e simples. Havia muita cumplicidade entre o elenco e a produção. Todo mundo que estava ali queria fazer um filme legal, todos se empenharam bastante e dava para ver que todos estavam na mesma vibe. A gente começou fazendo umas reuniões onde fazíamos uma leitura de mesa e depois outras reuniões para ensaiar, conversar sobre o personagem, figurino, etc. Tudo foi se desenvolvendo assim.

BC – Era uma equipe muito grande?

AM – Sim. Agora não lembro exatamente o número, mas devia ter umas 30 pessoas, mais ou menos. Cada um na sua função, foi bem legal.

BC – Como e quando você foi convidada a participar do BIA 2.0? Você já conhecia alguém da equipe?

AM – Só conhecia o Cristiano Calegari mesmo. Primeiro a gente gravou o curta-metragem, o PLANO SEQUÊNCIA, e que foi muito legal também porque foi na minha casa. Foi bem diferente ver todos aqueles equipamentos dentro do meu quarto. E, depois, mais ou menos na metade do ano passado, ele me mandou uma mensagem perguntando se eu queria participar do filme. Eu fiquei tipo: “O quê? Você ‘tá’ falando sério?”, e depois eu aceitei, lógico.

BC – Essa é a primeira vez que você atua num longa-metragem, o que mais lhe surpreendeu?

AM – Fora ser um longa [risos], foi muito legal ter essa troca. Todo mundo muito compenetrado para fazer um filme bacana. Porque, você sabe, “né”!? Aqui no Brasil é meio complicado fazer arte. Eu acho que foi muito legal ver que é possível fazer as coisas. Tem que acreditar que é possível, sim. Não precisa ser uma superprodução, não precisa de nada disso, você consegue fazer. Se todos estiverem empenhados, você consegue.

“Uma coisa que eu achei muito legal nele [Ghi Lobo] é que em todo final de cena ele vinha e nos dava um incentivo”

BC – Você trabalhou com dois atores premiados, a Maju Souza e o Ghilherme Lobo, como foi essa experiência?

AM – A princípio eu fiquei muito nervosa. HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO é um dos meus filmes nacionais preferidos. A Maju mora em Brasília, então eu a conheci num dos últimos ensaios, o Ghi eu conheci na leitura do roteiro, e nós falávamos com ela via Skype. Eles são muito simples. Eu criei uma amizade com a Maju durante as gravações, além da nossa amizade no filme. O Ghi é muito sincero. Uma coisa que eu achei muito legal nele é que em todo final de cena ele vinha e nos dava um incentivo. Isso pode não parecer importante, mas é, porque a gente precisava daquilo, de confiança. Ele sempre tem algum comentário positivo para fazer e a Maju é muito fofa, ela é muito Bia.


Ghilherme Lobo (HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO) e Maju Souza (O OUTRO LADO DO PARAÍSO), são Dan e Bia, protagonistas de "Bia 2.0"


BC – No seu canal, você contou que a Naty foi uma criação conjunta entre o Lucas Zampieri, diretor, o Gui Dantas, diretor de elenco, e você mesma. Por outro lado, o Cristiano Calegari, que também é diretor, afirmou numa entrevista que a história é baseada em fatos reais e que os personagens são inspirados em pessoas próximas a ele próprio e ao Lucas. Se os personagens são inspirados em pessoas reais, teve algum detalhe da Naty que você foi proibida de alterar?

AM – Tem alguns personagens que realmente existem, mas a Naty foi uma criação. Ela estava no papel, foi escrita pelo Cristiano e pela Silvia Seles, os dois roteiristas, mas ela foi construída. Então, ela estava lá, e eu, junto com o Lucas Zampieri, o Gui Dantas e o Cristiano, fomos trazendo coisas para a personagem. Uma coisa era o que estava no papel, outra era o que a gente estava fazendo. O Lucas me ajudou muito nas gírias, porque precisava ser natural, e nós trabalhamos muito para isso.

BC – Nessa mesma entrevista, o Cristiano disse que você foi a Bia no curta PLANO SEQUÊNCIA, de onde o BIA 2.0 surgiu. Por que você acha que não reprisou o papel agora e qual dos papéis você mais gostou de fazer?

AM – Eu acho que foi mais por causa da minha semelhança com a Naty, porque a gente tem muita coisa em comum. Ela é muito direta, eu também sou – apesar de não ter as gírias –, e tem esse estilo gótico-suave. E eu gostei das duas. Eu achei a Bia muito fofa e também me identifiquei, mas a Naty tem mais camadas que são muito interessantes. Acho que eu gostei mais da Naty.

BC – Quais as maiores semelhanças e diferenças entre você e a Naty?

AM – Vai além do estilo. A Naty é muito boa amiga e muito prática, e eu também sou. Por outro lado, eu acho que a maior diferença é o fato de ela falar muitas gírias, apesar de eu ter adotado algumas para mim. “’Cê’ é louco, tio! ‘Pá’! ‘Tá’ ligado!?” [risos].

BC – No canal você também contou sobre um acidente que sofreu durante o período das filmagens. Como você reagiu a isso? Você ficou preocupada?

AM – Eu sou muito atrapalhada, principalmente para correr. E quando eu torci o pé, a princípio, não doeu. Só doeu quando eu cheguei em casa, e eu pensei: “Meu, ‘tô’ ferrada, já era, não vou conseguir gravar”. Passei a madrugada inteira passando pomada, spray, minha mãe ficou acordada comigo, a gente ficou fazendo massagem. Naquela noite eu não dormi nada. Foi muito pensamento positivo. Carinho de mãe, spray, pomada e massagem dá certo, pode acreditar em mim. No dia seguinte eu já estava conseguindo colocar o pé no chão e, no final do dia, eu já estava correndo e pulando pela Paulista, porque a gravação ia ser aqui, e nós íamos estar vestidos de palhaços para interagir com crianças. Mas, a princípio, eu fiquei bem preocupada.

BC – Já tem algum outro projeto à vista?

AM – Tem algumas coisas que estão só no papel, por enquanto, mas eu estou tentando conciliar, porque agora eu estou trabalhando como professora de inglês em três escolas de idiomas e está meio difícil. Mas eu acho que em breve, espero, vou conseguir colocar tudo em prática.


Trailer de BIA2.0:





Entrevista realizada originalmente para a revista 'Era', feita para a disciplina 'Fotojornalismo e Planejamento Visual II' do curso de jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi, no dia 09/09/2018, e, posteriormente, publicada no Blog Modernagem.

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