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Bruno Carvalho

Spielberg e a distopia das referências

Tye Sheridan é Wade Watts/Parzival no novo filme de Steven Spielberg


Filme mais recente do diretor de Tubarão e Jurassic Park é mais do que um divertido oásis para nerds e geeks: é overdose de nostalgia oitentista num grandioso universo futurista


JOGADOR Nº 1 se passa na Terra de 2045, depois da falta de glucose de milho e do quebra-quebra da banda larga, onde a realidade é caótica. Oasis, por outro lado, é um lugar fantástico dentro do mundo virtual criado por James Halliday (Mark Rylance), onde as pessoas podem ser o que bem entenderem. Por isso, pessoas do mundo todo passam a maior parte do tempo imersas na realidade virtual.


Antes de morrer, Halliday escondeu dentro da sua maior criação um easter egg, e quem resolvesse os três desafios necessários para encontrá-lo – tão bem escondidos quanto o próprio egg –, ganharia o controle total do sistema e uma quantia de meio trilhão de dólares.

O protagonista do filme mais recente de Steven Spielberg, Wade Watts (Tye Sharidan), é fã número um de Halliday e, obviamente, é para quem torcemos em sua busca frenética pelo bendito segredo. Em Oasis, Watts é Parzival (em referência a Percival, um dos cavaleiros da Távola Redonda que procurava pelo Santo Graal), e lá conhece seus melhores amigos, cujos nomes no sistema são Aech (Lena Waithe), Daito (Win Morisaki), Sho (Philip Zhao) e Art3mis (Olivia Cooke) – esta última vem a ser o interesse amoroso do rapaz.


Em contraponto à busca dos Cinco do Topo, como fica conhecido o grupo ao longo da história, está a Innovative Online Industries (IOI), empresa concorrente da Oasis comandada por Nolan Sorrento (Ben Medelsohn), que faz de tudo, no mundo real e no virtual, para impedir o grupo de encontrar o egg.


A trajetória de Watts e seus amigos pode parecer mais uma aventura de Sessão da Tarde dirigida pelo mestre da Sessão da Tarde, com final previsível e tudo, mas não. Baseado no livro homônimo, escrito por Ernest Cline, que assina o roteiro do longa junto com Zack Penn (conhecido pelos roteiros de THE AVENGERS: OS VINGADORES e X-MEN: O CONFRONTO FINAL), o filme tem um quê a mais não só por se tratar de uma aventura “Spielberguiana” clássica, mas, principalmente, por ser uma ode à cultura pop sem que seu realizador caísse na vaidade de se autorreferenciar a cada frame – e olha que ele poderia. Há sim, como não poderia deixar de ser, referências a obras anteriores de Spielberg (T-Rex que o diga), mas não é só isso. Há, por exemplo, referências incríveis a Robert Zemeckis, O ILUMINADO, Looney Tunes, Hello Kitty, Batman e, até mesmo, a CIDADÃO KANE.


Encontrar todas as referências, diga-se de passagem, chega a ser angustiante. O nível absurdo de citações diretas e indiretas que estapeiam nossa cara a todo momento faria Capitão América ter um AVC. Mas, ao contrário do que se pode imaginar, o filme não se resume apenas em homenagens a obras-primas populares. O design de produção, por exemplo, é impressionante. A Columbus distópica onde vivem os Cinco do Topo é estranhamente sufocante, são montes de trailers, carros e containers empilhados de modo que se lembrarem favelas pode não ser mera coincidência. Oasis, por outro lado, é um lugar escancaradamente virtual, com direito às animações dos cabelos dos avatares que lembram, e muito, os games atuais.


Um dos pontos mais fortes do filme é a trilha-sonora, feita por Alan Sivestri (que também fez as trilhas de VINGADORES: GUERRA INFINITA, da trilogia DE VOLTA PARA O FUTURO e de O GUARDA COSTAS). E, apesar de não ser tão memorável como em outros filmes do diretor (não há, por exemplo, um tema marcante como em CAÇADORES DA ARCA PERDIDA), é notável o esforço (que não é em vão, vale ressaltar) de ditar o compasso de cada cena, seja ela de ação ou de tensão, nota por nota.


JOGADOR Nº1 é, sem dúvida, um dos melhores filmes do mestre Spielberg. Toda fórmula marcante do diretor se faz presente, do começo ao fim, e funciona como um remédio para quem precisa de diversão. E tudo isso com uma bela lição de moral para tempos em que vivemos mais imersos na virtualidade do que conectados uns com os outros de verdade. Afinal, só a realidade é real.


Crítica escrita originalmente para a revista 'Era', feita para a disciplina 'Fotojornalismo e Planejamento Visual II' do curso de jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi.

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